04 janeiro 2007

O Natal do Desperdício

«Nesta nossa sociedade consumista do usa e deita fora, pessoas há que não embarcam nessa febre. »

In “Homem que aproveita tudo” – Gato Fedorento

E acabou o Natal…! Todos os anos é a mesma coisa, em meados de Novembro, começamos a ver as montras das lojas todas enfeitadas com as decorações de Natal, e a saldar a mercadoria que ficou do ano transacto.

Começam também a chegar às caixas do correio as toneladas de publicidade para todo e mais algum artigo passível de ser oferecido como prenda Natalícia, desde os brinquedos para a canalha até aos frigoríficos para a mãe, e ainda a publicidade de todo e qualquer artigo para embelezar a mesa, que quanto mais tiver melhor. Bem, ao todo são cerca de 350 gr de papel de cada vez na caixa do correio, e não estou a exagerar, eu pesei mesmo!!

Mas chegamos ao dia de Natal, depois de se ter gasto uma pipa de massa, só porque queríamos oferecer o presente mais original e extravagante, e compramos ainda presentes para a vizinhança toda (não fosse ela começar com a má língua), pomos uma mesa descomunal, apesar de sermos apenas 6, temos uma mesa onde há de tudo e não interessa que o bolo rei fique em cima das rabanadas e a garrafa de tinto dentro da taça dos sonhos tipo frapé… Chega a meia noite e com ela o senhor da Coca-Cola, vulgarmente chamado Pai Natal (casado com a Merry Christmas…), e até o avô que já dormia com a cabeça para trás, a boca aberta e a dentadura dentro do copo de vinho (o chamado dente em vinha d’alho), se levanta para ir ver o que lhe tinha calhado em sorte (vais aviado com umas meias e dá-te por contente, o caixão não cabia na chaminé…). Em menos de 10 minutos há um mar de papel, laços e cartão no chão da sala. Todos estão contentes com o que lhes calhou (menos o avô que queria umas ceroulas…). Quem vai a missa arranca, e quem não vai dá mais uma volta à mesa, arranca uma rabanada do fundo do bolo rei e vai para a cama.

No dia seguinte, é tempo de recolher o lixo e deita-lo fora.

E era aqui que eu queria chegar! Onde é que TU que lês isto deitaste os teus papeis de embrulhos?

Ao longo de mês e meio recebi 350 gr de papel de 3 em 3 dias, o que dá cerca de 5 Kg de papel, mais o papel e cartão dos presentes, deve dar cerca de 6 Kg de papel que eu depositei no ecoponto azul. No entanto, no dia 25 de Dezembro havia uma montanha enorme de caixotes ao lado do contentor do lixo junto à minha casa, havendo um ecoponto a cerca de 100 metros. Ora como já dizia o Calvin, “para quê pensar quando a estupidez é instanânea”…

«Isto tem que funcionar assim a bem das gerações futuras, temos que aproveitar. (…) Eu não desperdiço nada, aproveito tudo! Tudo!»

In “Homem que aproveita tudo” – Gato Fedorento